No seguimento do artigo anterior aqui no blog, neste artigo vamos continuar a explorar a implementação de vãos na envolvente opaca. Contudo, desta vez vamos considerar uma situação muito comum em Portugal, que são os edifícios existentes que necessitam de renovação, mas que por motivos diversos se encontram impedidos de adotar soluções de isolamento/revestimento exterior.
- Janela existente
- Parede exterior existente
- Guarnição interior janela
- Placa de gesso cartonado pintado
- Estrutura suporte a revestimento de gesso cartonado
- Estanquidade ao ar
- Isolamento térmico
- Impermeabilização interior
- Pré-aro
- Janela nova
- Infraestruturas
- Guarnição exterior janela
- Faixa amarela – isolamento térmico
- Linha vermelha – estanquidade ao ar
- Linha azul – impermeabilização
OPÇÃO 1
Esta solução caracteriza-se pela implementação de isolamento térmico pelo interior, mantendo a parede e a janela existentes. Como se pode perceber no desenho, apesar de haver uma preocupação em garantir impermeabilização e estanquidade ao ar, simplesmente não é possível assegurar a continuidade da camada térmica e assim evitar a existência de pontes térmicas significativas na parede entre a janela e o isolamento térmico.
Assim, esta solução não deve ser encarada como uma solução final, mas apenas como uma solução temporária, um primeiro passo ou fase a caminho da implementação da opção 2 ou da opção 3.
OPÇÃO 2
Esta solução é a opção 1 com implementação de uma nova janela pelo interior, alinhada pela camada de isolamento térmico, assegurando a continuidade térmica, a estanquidade ao ar e um desenho livre de pontes térmicas.
Poderá funcionar como solução final, mantendo definitivamente a parede exterior e a janela existentes, ou então poderá ser um passo a caminho da opção 3. De qualquer modo, nesta solução é absolutamente crítico o correto dimensionamento e colocação da nova janela, pelo que a eventual abertura da janela existente poderá/deverá ter que ser assegurado, bem como a eventual compatibilização com os remates da guarnição exterior necessários na implementação da opção 3.
OPÇÃO 3
Esta solução é a opção 2 com a remoção da janela existente e a execução de guarnição exterior a fazer os remates entre a parede existente e a nova janela.
No contexto dos edifícios existentes, muitas vezes com limitações legais/patrimoniais que por motivos diversos impedem/desaconselham a intervenção pelo exterior, poderá não restar outra opção a não ser a intervenção total ou parcial pelo interior.
Contudo, convém esclarecer que intervir pelo interior não é a mesma coisa que intervir pelo exterior. As dificuldades e as desvantagens são maiores na intervenção pelo interior.
Por exemplo, enquanto numa intervenção exterior a impermeabilização é garantida pela camada exterior do revestimento, numa intervenção interior não havendo garantias da correta impermeabilização da envolvente opaca existente deve garantir-se uma impermeabilização interior. Esta impermeabilização não impede as patologias/danos causados pela água na parede existente, apenas impede a sua passagem para o interior e a sua consequente acumulação na face fria do isolamento térmico.
Neste sentido, a correta definição da camada estanque ao ar pela Regra do Lápis revela-se ainda mais essencial, para garantir que não há acumulação de vapor de água interior na face fria do isolamento térmico. Caso isso aconteça, estando a parede existente impermeabilizada pelo interior, o vapor de água irá acumular-se no interior do edifício junto ao isolamento térmico, gerando diversas patologias tais como condensações, fungos e/ou apodrecimento de materiais construtivos. Isto não só compromete a durabilidade do edifício como acima de tudo compromete a saúde dos seus utilizadores.
Outro exemplo, uma intervenção pelo interior terá maior probabilidade de ter que lidar com elementos construtivos (estruturais ou não) em contacto com a envolvente opaca, dificultando na melhor das hipóteses o desenho livre de pontes térmicas e a estanquidade ao ar do edifício. Todo o trabalho de detalhe construtivo e de execução/acompanhamento em obra é muito mais minucioso e morado, havendo sempre um risco potencialmente maior de ocorrerem pequenas falhas ou dificuldades técnicas que podem prejudicar ou até comprometer o blower-door test – ensaio da porta ventiladora.
Finalmente, e não menos importante, toda e qualquer intervenção pelo interior implica sempre uma redução da área útil interior.
Por outro lado, na perspetiva do património edificado existente faz todo o sentido não limitar as maiores valias da Passive House a intervenções globais de fundo com o objetivo de atingir os padrões da certificação standard, podendo ser necessário ou até preferível considerar a opção EnerPHit.
O que é a EnerPHit?
É a certificação da Passive House para edifícios existentes reabilitados, com exigências ligeiramente inferiores ao nível das necessidades energéticas dos edifícios, mas com todas as restantes vantagens do standard Passive House. Para além disto, a certificação EnerPHit também pode ser obtida através de um plano de reabilitação faseado.
Nesta perspetiva, com o correto planeamento da intervenção global garantindo a correta compatibilização entre as fases, assegurando a continuidade dos trabalhos entre fases sem necessidade de destruição do investimento de fases anteriores, é possível melhorar passo a passo a performance do edifício e a qualidade de vida dos seus proprietários.
As soluções construtivas aqui apresentadas podem ser enquadradas neste contexto, começando pela opção 1 para impermeabilizar e isolar a envolvente opaca, depois passando para a opção 2 com a implementação de uma nova janela mais eficiente e, eventualmente, terminando na opção 3 com a remoção da janela existente e a execução dos remates exteriores com a envolvente opaca existente.
Tal como no artigo anterior, estas são apenas algumas entre inúmeras soluções construtivas possíveis. Não existe um sistema construtivo Passive House, nem materiais exclusivos Passive House, nem muito menos uma estética Passive House.
Existem sim princípios bem definidos que devem ser salvaguardados independentemente das escolhas técnicas e estéticas, os quais são rigorosamente aferidos através da ferramenta PHPP (Passive House Planning Package), do blower-door test do arranque do sistema de ventilação com recuperação de calor, os quais são parte obrigatória do processo de certificação internacional Passive House, seja como Passive House ou como EnerPHit.