Este artigo inaugura aqui no blog uma nova série dedicada a soluções construtivas dos edifícios Passive House.
Como ponto de partida vamos considerar algumas das soluções construtivas possivelmente mais correntes em Portugal, a parede de alvenaria com revestimento exterior ETICS (External Thermal Insulation Composite System que em português significa “Sistema de Isolamento Térmico pelo Exterior”) e revestimento interior em gesso cartonado. Neste contexto vamos analisar a implementação de vãos na envolvente opaca.
- Revestimento ETICS
- Isolamento Térmico
- Pré-aro
- Janela
- Peitoril
- Estanquidade ao ar
- Alvenaria
- Estrutura suporte a revestimento de gesso cartonado
- Placa de gesso cartonado pintada
- Infraestruturas
- Faixa amarela _ isolamento térmico
- Linha vermelha _ estanquidade ao ar
- Linha azul _ impermeabilização
Conforme se vê pela faixa amarela, há uma continuidade geométrica entre os elementos que fazem o isolamento térmico do edifício. Esta continuidade concretiza-se pelo alinhamento da janela com a camada de isolamento térmico, permitindo assim uma solução sem pontes térmicas.
Nunca é demais relembrar que a escolha correta das janelas – caixilharia e vidros – é fundamental. Contudo, não basta uma excelente janela para garantir a correta eficiência energética. A sua colocação e ligação aos restantes elementos construtivos é absolutamente essencial.
Relativamente à estanquidade ao ar, fundamental para o desempenho Passive House, esta solução construtiva exemplifica a Regra do Lápis. Através de fitas e/ou pinturas e/ou telas garante-se uma continuidade de estanquidade em toda a envolvente do edifício. Toda e qualquer interrupção, tal como a janela deste exemplo, ou atravessamentos de infraestruturas (tubagens com ligação ao exterior), ou fixação de elementos (com elementos que perfurem a camada estanque), deverá ser analisada/solucionada em detalhe, assegurando transição e continuidade entre elementos, para não comprometer a estanquidade ao ar de todo o edifício.
Neste sentido, a sugestão da zona técnica criada pelo vazio da estrutura do revestimento em placas de gesso cartonado permite que todas as infraestruturas interiores possam passar junto às paredes exteriores sem a necessidade da abertura de roços na alvenaria. A abertura de roços na alvenaria não só compromete pontualmente o desempenho energético da alvenaria, como até pode comprometer a integridade/estabilidade física da mesma, mas principalmente torna muito difícil garantir a continuidade na camada estanque ao ar. O que se perde em área útil interior pela adoção desta camada suplementar, ganha-se na durabilidade das soluções e no desempenho do edifício.
Este detalhe construtivo poderá ser complementado com sistemas de sombreamento, interiores e/ou exteriores, de acordo com a orientação solar, a dimensão do vão, a utilização do espaço interior e as preferências pessoais dos proprietários.
É importante referir também que no faseamento construtivo deverão, idealmente, estar previstos dois blower door test – ensaio da porta ventiladora. Relembramos que todos os edifícios Passive House devem cumprir padrões bem determinados e muito exigentes de estanquidade ao ar, obrigatoriamente verificados através de testes blower door test.
Imediatamente após a instalação da caixilharia, com a estrutura da zona técnica e todas as infraestruturas executadas, estando assegurada a correta execução de todos os detalhes de estanquidade ao ar, mas sem revestimento exterior ETICS nem o revestimento interior em placas de gesso cartonado, deverá ser feito o primeiro teste blower door test. Nesta fase é possível detetar facilmente pequenas falhas e realizar correções sem danificar trabalho executado.
Com um resultado positivo no primeiro blower door test pode-se avançar então com os revestimentos exteriores e interiores. No final da obra deverá feito o segundo blower door test para verificação final do cumprimento dos padrões Passive House.
Esta é apenas uma entre inúmeras soluções construtivas possíveis. Não existe um sistema construtivo Passive House, nem materiais exclusivos Passive House, nem muito menos uma estética Passive House.
Existem sim princípios bem definidos que devem ser salvaguardados independentemente das escolhas técnicas e estéticas, os quais são rigorosamente aferidos através da ferramenta PHPP (Passive House Planning Package), do blower door test e do arranque do sistema de ventilação com recuperação de calor, os quais são parte obrigatória do processo de certificação internacional Passive House.
Isolamento térmico contínuo sem pontes térmicas e estanquidade ao ar são os princípios em causa neste detalhe construtivo, e são essenciais para que um edifício possa ser efetivamente considerado Passive House.