Recentemente ouvi numa palestra sobre o estado dos edifícios em Portugal algo que não consegui esquecer… “energia não significa conforto”.
A verdade é que o facto de existir a possibilidade de utilizar energia no edifício para aquecer e/ou arrefecer o ambiente não quer dizer que as pessoas estejam confortáveis.
A energia tem um preço e o conforto também. O que as Passive House fazem, por serem edifícios de elevado desempenho energético, é diminuir o custo do conforto pela diminuição da quantidade de energia que é preciso para o garantir. Mas, infelizmente em Portugal o parque edificado é desconfortável (ainda não é Passive House) e o custo do conforto é tão alto que as pessoas simplesmente não gastam energia para o ter. A pobreza energética é uma realidade em Portugal.
Grande parte da população não liga os equipamentos pois não têm condições para pagar a energia ao final do mês e isso pode trazer consequências sérias na saúde, não só pelo facto das temperaturas interiores serem desconfortáveis, mas também pelo stress que as faturas elevadas podem causar… e estes riscos são ainda maiores numa população idosa e frágil como a portuguesa. “…estima-se que, em 2018, a gripe e as baixas temperaturas tenham causado cerca de 3700 mortes, das quais 397 atribuíveis ao frio”
Mas não é só frio que causa um aumento da mortalidade, também as cada vez mais frequentes ondas de calor põem em risco muitas pessoais, e o desconforto térmico pode ser fatal para quem já tem problemas de saúde. E no Verão a Passive House também é a solução.
O Observatório Europeu para a Pobreza Energética define a pobreza energética como uma “forma distinta de pobreza, associada a um conjunto de consequências adversas para o bem-estar e saúde das pessoas” que pode piorar os sintomas e consequências das doenças respiratórias, cardíacas e mentais.
Esta realidade é assustadora, mas sem uma intervenção no parque edificado é muito difícil que esta realidade se altere. Aliás, em 2018, Portugal era dos países da União Europeia onde as famílias tinham mais dificuldade em manter a casa quente… era o 5º país.
E tudo poderia ser bem diferente se os requisitos e estratégia das Passive House fossem tidos em conta aquando da reabilitação de um edifício.
Apesar de Portugal ser um dos países com o clima mais ameno na União Europeia continua mal classificado nesta estatística. Porquê?
Porque… os edifícios existentes não são energeticamente eficientes, não são saudáveis, são de pouca qualidade e para agravar esta situação o custo da energia é elevado.
Há alguns meses, investigadores da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa realizaram um estudo que permite identificar quais as freguesias mais vulneráveis ao frio e calor.
Nesse estudo é possível relacionar as zonas de Portugal mais exigentes (quer no frio, quer no calor) com as freguesias mais vulneráveis, mas também é possível verificar que as localizações identificadas são pobres e com edifícios de pouca qualidade. Segundo este estudo o problema só pode diminuir com “medidas estruturantes de eficiência energética dos edifícios e de energias renováveis”.
A Associação Passivhaus Portugal tem vindo a reivindicar Passive House para todos, nomeadamente com o seu manifesto, porque todos os Portugueses têm direito a uma casa com conforto…quer estejam no norte ou no sul, quer vivam nas freguesias mais vulneráveis ou não.
Viver em condições de conforto é um direito básico como o direito à saúde ou à educação, e como tal, não deveria depender do local onde as pessoas vivem, nem à sua condição social.