O mundo não ficará igual depois da experiência que estamos a vivenciar. Essa é a única certeza… Haverá mudanças profundas na forma como as pessoas vivem, trabalham, se movimentam e se relacionam. Essas mudanças são já visíveis na forma como todos nos adaptámos às novas circunstâncias de forma incrivelmente rápida.
Mas como irão os edifícios e a sua arquitectura se adaptar a esta nova forma de viver? As perguntas são muito mais que as respostas, mas após alguma reflexão…
Valorização do espaço
Com a necessidade de manter algum afastamento social o espaço será um bem ainda mais valorizado, nomeadamente nos espaços públicos fechados como restaurantes, serviços e comércio em geral. Também os escritórios sofrerão uma adaptação interessante de acompanhar, por um lado deveriam ser maiores devido ao distanciamento necessário, por outro o teletrabalho veio para ficar, pelo que o número de pessoas nos escritórios deverá ser menor. Será que os comuns open-spaces nos escritórios desaparecerão? E as habitações? Será agora o hall de entrada uma zona fundamental para separar a zona exterior (suja) da interior (limpa)?
Também o espaço exterior irá ser repensado…. Os passeios serão maiores, mais largos? O transporte público recomendado nas cidades dará lugar ao transporte privado? Serão as bicicletas e trotinetes elétricas alternativas? E a densidade demográfica das cidades sofrerá alterações?
Materiais mais seguros
Cerca de 80% das doenças infeciosas são transmitidas por contacto, geralmente das mãos, com superfícies contaminadas, este facto levará a que todos os materiais de revestimento dos edifícios sejam mais seguros, fáceis de limpar e desinfetar (mantendo a sua durabilidade) sem juntas e antibacterianos. Materiais que não permitam acumulação e desenvolvimento de mofos e humidades.
Tecnologia na arquitectura
A tecnologia tem ajudado muito também nesta pandemia, mas e na arquitectura? Provavelmente sistemas hand-free serão cada vez mais incorporados nos edifícios, quer seja para chamar elevadores, abrir e fechar estores e portas ou até na iluminação. A internet das coisas também pode sofrer um “empurrão” com esta pandemia e com o facto de todos estarmos um pouco assustados e a única coisa em que tocamos serem objetos pessoais como o telemóvel. Será este equipamento cada vez mais uma extensão de nós próprios? Tão importante como um órgão ou um sentido?
Multifuncionalidade e reutilização adaptativa
Os edifícios provavelmente deverão ser pensados para se adaptarem mais facilmente a outras funcionalidades, nomeadamente edifícios públicos. Durante esta pandemia vimos pavilhões desportivos serem transformados em hospitais de campanha, hostels a servirem como habitação permanente e hotéis a utilizarem os seus quartos como quartos de confinamento. Talvez a arquitectura deva ser cada vez mais pensada para dar resposta de uma forma ainda mais rápida e eficiente a situações de emergência. Por exemplo hotéis ou lares de idosos com boxes para quarentena e com quartos de fácil adaptação para simular quartos de cuidados intensivos; corredores de circulação sem cruzamento de pessoas e com materiais mais facilmente higienizáveis, elevadores de maior dimensão para utilização de macas… Desta forma se houvesse uma pandemia ou outra emergência os hospitais poderiam socorrer-se destes edifícios.
A versatilidade dos edifícios poderia ser uma vantagem competitiva da arquitectura pós COVID19.
Edifícios saudáveis: de tendência a necessidade
Neste blog temos vindo a falar de edifícios saudáveis e de como são importantes também para nossa saúde. Com a pandemia é ainda mais claro a necessidade de projetar, contruir e manter edifícios saudáveis. Já não é apenas uma tendência ou um movimento, é uma necessidade.
Com a preocupação da propagação de doenças infecciosas será cada vez mais natural investir em edifícios saudáveis (nomeadamente no que respeita à ventilação, qualidade do ar interior, qualidade da água, humidade e segurança). Porque afinal somos o que comemos, mas também somos o que respiramos.
A verdade é que esta pandemia irá refazer a forma como pensamos a arquitectura e o tecido urbano. E à semelhança de outras pandemias no passado, quase nada se manterá igual.