Que a qualidade do ar interior (QAI) é muito importante para os utilizadores de um edifício já não é novidade. Que esta qualidade está muito ligada à ventilação existente também não. Mas falar de qualidade do ar interior numa escola é ainda mais relevante, não só porque falamos de crianças e jovens, mas também porque estamos num cenário de aprendizagem e desenvolvimento cognitivo.
Por outro lado, no final do secundário um aluno passou em média 15.600h dentro da escola, e, portanto, as condições do edifício “escola” são muito relevantes. A saúde e desempenho dos estudantes podem ser negativamente afetados por exposições a fatores de risco ambiental como a má qualidade do ar interior (influenciada pela existência de pesticidas, radão, mofo, humidades, amianto, etc.), iluminação inadequada, elevados níveis de ruído e até desconforto térmico.
Para aumentar a relevância do tema ainda nos deparamos com o factor pandémico do COVID 19 que veio alertar, mais ainda, para este problema. Nestes tempos de pandemia muitas medidas têm sido preconizadas para (tentar) resolver o problema da QAI nas escolas, por exemplo monitorizar a concentração de dióxido de carbono (CO2), abrir janelas (o que muitas vezes nem é possível), colocar equipamentos de desinfeção do ar, usar ar condicionado… enfim, medidas e custos significativos que seriam desnecessários se as escolas pudessem usar sistemas de ventilação mecânica com recuperador de calor (sistemas previstos em projetos Passive House).
Quando falamos em qualidade do ar interior devemos pensar em 3 vetores: a temperatura, a humidade e a pureza (normalmente medida pela quantidade de CO2). À temperatura e humidade os docentes, auxiliares e alunos estão muito mais atentos pois conseguem detetar quando a temperatura e/ou humidade são excessivas ou muito baixas, mas quanto à concentração de CO2 (e de outros agentes nocivos) tal não acontece, já que o CO2 é um gás inodoro e incolor.
A Direcção Geral de Saúde recomenda a ventilação dos espaços escolares no entanto devido ao frio durante o inverno esta ocorre quase sempre durante os intervalos. Assim, para se garantir alguma ventilação, que nem sequer é possível medir ou controlar visto dar-se pela abertura de janelas, coloca-se em causa o conforto térmico dos alunos, professores e até auxiliares.
A baixa qualidade (em geral) das salas de aula, segundo alguns especialistas, deve-se às turmas numerosas em salas pequenas, com níveis elevados de CO2 no interior e risco aumentado de infeções respiratórias de contágio fácil. A degradação das paredes, das tintas e dos revestimentos, onde surgem, com frequência fungos e bolores, é outro aspeto a considerar. A utilização de detergentes (agressivos ou demasiado concentrados) na presença dos alunos, professores e funcionários (ou pouco antes de entrarem nas salas), o uso de químicos em laboratório sem assegurar todas as condições de segurança e a frequente alteração do layout original e do tipo de uso dos espaços escolares também origina situações de risco.
Felizmente, a legislação nacional refere valores mínimos de renovação de ar e as taxas desejáveis variam com o número de ocupantes do local, a idade e as atividades aí desenvolvidas. Esses valores estão parametrizados, sendo que a taxa de renovação do ar (renovações por hora é a relação entre o caudal movimentado por hora, e o volume de um espaço, em metros cúbicos) mínima é 0,4 renovações por hora.
A dificuldade é que sem controlo e medições é difícil saber se estes valores de cálculo estão a ser cumpridos.
Já aqui falamos da importância da qualidade do ar interior no desempenho, na qualidade da concentração e portanto da aprendizagem.
Num artigo anterior referimos “… aumentando de 1000 ppm (partes por milhão) para 2500 ppm de CO2 há uma perda de cerca de 90% em funções tão essenciais como a iniciativa ou o pensamento estratégico. Aliás, todos os parâmetros avaliados desceram significativamente com o aumento da concentração de CO2 no local de trabalho.”
Estes resultados podem ser facilmente transpostos para a escola, mesmo que apenas de forma intuitiva. Contudo, a Healthy Buildings for Health da Universidade de Harvard fez um estudo de recolha e síntese de informações de muitos estudos científicos sobre o tema, e chegou algumas considerações. Demonstrou-se que as condições da escola influenciam a saúde, pensamento e desempenho dos alunos de forma relevante.
A qualidade do ar interior influencia a saúde dos estudantes que devido a problemas respiratórios podem ter que faltar as aulas prejudicando a sua normal aprendizagem. Alias, estudos apontam um número gingante nos EUA onde cerca de 13.8 milhões de dias por ano de aulas são perdidos devido à asma.
Por outro lado, as funções cognitivas (pensamento, bem estar mental, atenção, compreensão e concentração) são também influenciadas, nomeadamente pelo nível de pureza do ar (concentração de CO2). Diversos estudos demonstram ainda que o desempenho dos alunos a médio longo prazo melhora quando são tomadas medidas para melhoria da QAI.
Não há qualquer dúvida que as escolas do século XXI deveriam promover a ventilação controlada que permitisse critérios aceitáveis de qualidade do ar interior. E porque não garantir esses critérios e em simultâneo contribuir para o conforto térmico e a eficiência energética através da utilização da ventilação mecânica com recuperação de calor?
Critérios para uma escola mais saudável…
A temperatura interior recomendada para uma escola em regime de utilização é de 20ºC no verão e 25º no Inverno, e a humidade relativa deverá estar entre os 30 e os 60%.
Quanto à concentração de CO2 esta deverá estar idealmente sempre abaixo de 1000 ppm.