Desempenho: esta foi a palavra que fez rodar a chave para João Vivas na hora em que decidiu construir uma Passive House. Hoje é o dono de obra de uma moradia em conclusão no concelho de Santa Maria da Feira, que será muito em breve uma casa passiva. Com um piso complementado com um mezanino, uma área de implantação de cerca de 280 m2 e área de útil de 320 m2, estivemos à conversa com João Vivas sobre o projeto, a obra, e aquilo que tem diferenciado o processo de construção da sua Passive House.
Margarida Gamboa (MG) – João, o que é que o levou a querer construir uma casa passiva?
João Vivas (JV) – Surgiu a necessidade de construir para dar um passo nas condições de habitação da família, que estava a crescer. Fazer só por fazer não estava nos meus planos! Procurei pelo tipo de construção que poderia trazer um valor acrescentado para que a despesa que ia ter pudesse ser um investimento no usufruto que eu ia poder tirar dela. Conheci o conceito Passive House por casualidade através de um amigo e fiquei muito interessado. Após um primeiro contacto tudo o que me colocaram ao alcance era muito interessante e decidi avançar. Sempre numa ótica de obter um conforto e níveis de eficiência de utilização do edifício bastante significativos, que me pudessem trazer um retorno mais imediato pela própria utilização do edifício.
MG – Quando ouviu falar sobre Passive House quais os fatores que lhe soaram como “é mesmo isto que eu quero!”?
JV – Talvez pela minha formação (o João trabalha na área da contabilidade) aquilo que me despertou mais o interesse foi a palavra “desempenho”, em conjunto com eficiência e eficácia. Com estes termos fiquei muito interessado. Apercebi-me que tudo o que seria feito teria uma base lógica e científica; iria ponderar-se todo o tipo de investimento para que ele não fosse desperdiçado em coisas desnecessárias, mas que fosse antes focado em determinados pontos essenciais para trazer o conforto e a qualidade de utilização e habitabilidade do edifício que pretendia. Falamos, nomeadamente, da qualidade do ar e ausência de algumas fragilidades que nos edifícios mais comuns vemos, como pontes térmicas, paredes com bolores, etc. Sobretudo esta parte do conforto associado ao alto nível de eficiência do edifício foi aquilo que mais me despertou interesse para avançar.
MG – Nesta altura a moradia já se encontra em fase relativamente avançada de construção. Quais têm sido os desafios e diferenças para um projeto não passivo?
JV – A construção iniciou-se há 24 meses e o desejo era que estivesse mais avançada, mas temos cenários macro que nos prejudicam a todos, de guerra e anteriormente do Covid. Aliado a isto continua a existir da parte da construção civil dificuldade em acedermos a mão de obra qualificada e de qualidade. Embora não seja um problema isolado…
Agrada-me muito na construção da casa passiva a atenção ao pormenor que cada um dos intervenientes vai dando ao que está a ser feito. E efetivamente não se está a fazer por fazer. Não se está a pegar no dinheiro, colocar numa trituradora e ver aparecer materiais de construção. Tem havido uma colaboração sistemática da parte de quem projetou, das especialidades, com muita consciência do objetivo para termos uma casa passiva, e este acompanhamento de obra tem sido muito bom e muito próximo, tanto pela empresa construtora, como pelo diretor de obra.
MG – Podemos dizer que o rigor e o pormenor estão aqui muito inerentes…?
JV – Precisamente. Podemos dizer que quando se tratou da parte da caixilharia e da caixa de estore, por exemplo, sempre um ponto crítico, fizemos um estudo aprofundado, um protótipo. Isto para conseguirmos alcançar os objetivos que pretendemos, nomeadamente na questão da estanquidade ao ar. Desafios que se converteram em experiências interessantes.
MG – Esta é uma moradia com uma arquitetura solar passiva e por isso adiciona aqui algo à questão do desempenho. Quais são as expetativas objetivas que tem para esta casa?
JV – Há aqui um interesse muito grande em tornar a casa muito eficiente. Aproveitando tudo o que está incorporado na casa, mas também tudo aquilo que a Natureza nos dá. Uma grande vantagem minha enquanto investidor foi ter procurado (e encontrado) um atelier, a Homegrid, que está consciente do que é a casa passiva solar. Por isso conseguimos desde início enquadrar a casa num desenho que agradasse, numa exposição solar muito interessante, que permite na altura do inverno o aquecimento passivo da casa através da infiltração solar e durante o verão protege a casa do sol através do sombreamento. Nesta altura temos uma pala, que mais tarde poderá ser complementada com uma pérgula ou algo mais natural, como árvores. Temos assim um sistema de aquecimento e de arrefecimento passivo, com a ajuda da Natureza!
MG – Um dos objetivos é a certificação. Porquê?
JV – O objetivo será trazer sobretudo trazer um valor acrescentado ao imóvel, certificando o valor que ele representa e que o vai diferenciar no mercado. E ó que eu quero, que seja reconhecido esse valor adicional que o imóvel representa.
MG – Estão ansiosos por poder habitar a vossa casa…
JV – Eu por mim lá estava e acho que por todos os intervenientes também! A maior dificuldade tem sido a questão da mão de obra, transversal a todo o setor. Mas o investimento que é feito em equipamentos para uma Passive House é exatamente o mesmo de uma casa que não seja passiva. A qualidade tem um preço claro. Mas não temos nada que seja de outro mundo. Temos soluções bem pensadas, soluções equilibradas.
Notas finais:
Autoria do projeto: Homegrid
Empreiteiro geral: Gomano
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