As estratégias de descarbonização dos edifícios têm vindo a fazer parte das discussões dentro do setor da construção numa tentativa de contribuir para uma redução do impacto negativo que os edifícios têm no meio ambiente. Essas estratégias estão há vários anos em discussão, quer a nível legislativo, quer no dia-a-dia do sector da construção. Este tema começou por se focar na emissão de carbono associado ao consumo energético dos edifícios, ou seja à sua eficiência energética (ou falta dela). Por isso, há mais de 15 anos a União Europeia tem legislado sobre o tema e os estados membros obrigados a transpor para a legislação nacional com as devidas adaptações essas exigências legais. Foi assim que surgiu em Portugal a obrigatoriedade da certificação energética dos edifícios, as classes energéticas e muito mais.
Na verdade tem havido uma evolução significativa quanto à tentativa de redução das emissões de CO2 devido à fase de operação dos edifícios, nomeadamente no que diz respeito ao consumo energético e sua eficiência.
Vários estudos aliás demonstram que as emissões de CO2 associados à utilização dos edifícios representam mais de 80% de todas as emissões provenientes dos edifícios, desde a sua construção até à sua demolição, ou seja durante todo o seu ciclo de vida.
Por isso, foi e é essencial, otimizar a eficiência energética de TODOS os edifícios (novos e usados) antes de se falar de “carbono incorporado”.
Mas o que significa ”carbono incorporado”. Este termo refere-se à quantidade de carbono que está presente num produto ou material, tendo em consideração não apenas a emissão direta de dióxido de carbono (CO2) durante a sua produção, mas também a emissão indireta ao longo de todo o ciclo de vida do produto. Isso inclui as emissões de CO2 provenientes da extração de matérias-primas, fabrico, transporte, uso e eventual descarte ou reciclagem do produto.
Ou seja, não se trata das emissões devidas ao processo de construção, operação e demolição dos edifícios, mas sim as emissões associadas aos materiais ou produtos que o constituem, considerando o ciclo de vida dos mesmos.
Isto significa que a o carbono incorporado não tem tanto a ver com o edifício em si, mas com as escolhas feitas ao nível do projeto dos materiais de construção.
Desta forma, um edifício só tem muito ou pouco carbono incorporado como consequência das decisões de projeto e não devido ao facto de ser ou não ser Passive House ou ter uma classe energética A ou C. Na verdade podemos ter uma Passive House com baixo carbono incorporado ou ter uma Passive House com elevado carbono incorporado. Tudo depende do projeto!
E como é óbvio também podemos ter um edifício com emissões de carbono zero durante a sua utilização, mas este ter elevados níveis de carbono incorporado, pois utiliza materiais de construção pouco interessantes desse ponto de vista.
Assim é importante selecionar bem os materiais de construção, analisando o local de extração das matérias-primas, a distância entre a produção e a obra, o consumo energético associado à produção desses materiais, a possibilidade de desmantelamento dos produtos em fase de demolição, a sua possível reciclagem e tantos outros parâmetros relevantes no ciclo de vida do produto ou material.
Neste contexto existem ferramentas de apoio ao projeto disponíveis para se simular as emissões globais de CO2 com a construção do edifício em causa. No caso das Passive House é possível fazer uma avaliação no PHPP (Passive House Planning Package), mas é expectável que o conceito Passive House venha a incorporar uma abordagem mais holística no que respeita à eficiência dos materiais e ao seu carbono associado.
Resumindo, a análise do ciclo de vida do edifício e a contabilização do carbono associado aos materiais utilizados nele, só é relevante a partir do momento em que temos edifícios com baixo carbono na operação do edifício, ou seja, edifícios com reduzidos consumos de energia… Caso contrário estamos a começar pelo fim.