Nesta conversa ouvimos o testemunho da Inês Pinto, moradora numa Passive House reabilitada em Ílhavo. Ao longo da entrevista, a Inês partilha a sua experiência numa Passive House: o conforto diário, as vantagens invisíveis, mas impactantes, e a mudança de perceção que esta habitação trouxe para a sua saúde e bem-estar. Uma conversa real sobre o que é, na prática, viver bem numa casa bem feita.
Margarida Gamboa (MG) – Bem-vinda Inês! Muito obrigada por teres aceite o convite da Passivhaus Portugal para esta breve conversa. Tu vives numa Passive House há quase três anos. Quero começar pelo início. Quando foste viver para essa casa, o que é que sabias sobre o conceito e quais eram as tuas expectativas? O que é que já sabias?
Inês Pinto (IP) – Eu acho que fui uma sortuda, porque acabei por entrar numa Passive House conhecendo o conceito, mas tudo muito na teoria. Quando ouvimos falar, temos sempre aquela dúvida: será mesmo assim?
A casa estava recém-reabilitada, era novinha por dentro. E a minha expectativa era, no fundo, aquilo que se diz: qualidade de vida. O conforto térmico, o bem-estar. Estava um bocado expectante: será que isso vai mesmo acontecer? E o que é que isso implica?
Mas tive sorte, porque acho que não fui à procura, simplesmente aconteceu. E hoje reconheço que, quando tiver de sair desta casa, os meus padrões vão estar mais exigentes. Quero continuar a morar numa Passive House.
MG – E o que é que encontraste? Como é que é viver numa Passive House?
IP – É uma casa. E acho que é importante desmistificar algumas ideias. Perguntavam-me muito: “Mas podes abrir as janelas?” Sim, claro que posso. É uma casa normal. Mas o que se nota mesmo é aquilo que não se sente. Ou seja, os desconfortos que não existem.
Não temos problemas com fungos, mesmo no inverno. Não há amplitudes térmicas bruscas: na rua está frio, em casa está confortável. Claro que troco a roupa da cama no inverno, não é tudo automático. Mas nem sequer preciso de ligar o ar condicionado constantemente.
Com o tempo fui percebendo outras vantagens. Por exemplo, o ruído. Durmo num quarto ao nível do rés-do-chão e não ouço nada. Tivemos obras ao pé, ouve-se um carro a buzinar, sim, mas não há aquele ruído estridente dentro de casa.
E o mesmo acontece ao contrário: podemos fazer um jantar em casa sem incomodar os vizinhos. Moro numa casa geminada e não se ouve nada, só talvez o subir das escadas por causa do tipo de estrutura. Mas não há barulho. Isso surpreendeu-me muito.
Depois há coisas como a qualidade do ar. Por exemplo, a minha casa de banho não tem janela e não tem qualquer vestígio de humidade ou bolor. Em Aveiro! Isso, para mim, era impensável.
Sou muito alérgica a ácaros e aqui consigo ter uma transição tranquila entre tipos de roupa, sem precisar lavar tudo constantemente. Antes ficava mesmo doente. E agora sinto, e isto pode soar poético, que há paz. Entras em casa e sentes a casa a cuidar de ti.
Se está calor lá fora, dentro está mais fresco. Se está frio, está mais quente. Parece que a casa está feita para nos satisfazer nas necessidades básicas que, nas outras casas, são constantemente comprometidas.
MG – O que tu disseste no início talvez resuma bem: é o que não se sente. Os desconfortos normais nas outras casas que simplesmente não existem. Quando alguém te visita, nota essa diferença?
IP – Sim, essencialmente no conforto térmico e acústico. As qualidades do ar talvez não notem tanto, acho que só se nota mesmo quando se passa mais tempo.
MG – Claro, porque normalmente são períodos curtos. Mas o conforto térmico é mesmo notório.
IP – Sim, e o acústico surpreendeu-me. O resto eu já esperava e queria experimentar. E correspondeu mil por cento, mesmo numa casa pequena.
MG – E em relação aos custos energéticos? Notas diferença?
IP – Sim. A casa é totalmente elétrica, não temos gás. Vivo com muito conforto se tenho frio, ligo o ar condicionado. O máximo que paguei de eletricidade foi 34 euros, em pleno inverno. Pago mais de água do que de luz!
No verão pago cerca de 20 euros. Comparando com amigos que vivem em T1 e pagam o triplo, ou pelo menos o dobro, é uma diferença grande. E depois dizem: “A tua casa é diferente, não é?” E é mesmo.
Muitas vezes acham que uma Passive House tem custos de implementação muito altos. Mas é fácil fazer o balanço, rapidamente recuperas esse valor em poupança. Em três anos, se calhar já compensou.
MG – E as pessoas que levas a casa, o que dizem? Há mitos que se desfazem?
IP – Sim. Primeiro, o das janelas acham que não se pode abrir. E eu digo sempre: “Isto é uma casa normal. Se quiseres abrir a janela, abres.” Eu gosto de abrir, gosto de ouvir os passarinhos.
Depois vêm as curiosidades técnicas, e a ideia de que é caro. Mas mesmo não tendo sido eu a investir nesta casa, já percebo que faz sentido esse investimento porque gastas pouco.
A casa foi pensada para isso, tudo ajuda. Mas no início duvidam. Pensam: “Não pode ser assim tão diferente.” Depois de verem, percebem que é mesmo verdade. Não é mais do que isto, é exatamente isto.
MG – É o ver para crer.
IP – É isso mesmo.
MG – E quanto à manutenção?
IP – A única coisa diferente de uma casa normal é a substituição dos filtros das máquinas que colocam o ar no interior. É por onde entra o ar novo. Talvez custem 30 euros de três em três meses, ou de seis em seis. É esse o impacto.
MG – O preço para respirar bem.
IP – É mesmo. E é assustador quando se vê a sujidade acumulada nos filtros.
MG – Por fim, se tivesses de descrever o que é para ti uma Passive House numa palavra ou expressão, qual seria?
IP – Viver bem. Acho que é isso.
MG – Muito obrigada Inês!
Veja a entrevista aqui.