Muitas vezes nos dizem: "mas se eu ventilar a casa abrindo as janelas o calor vai sair". Então estive a aquecer a casa e abro as janelas? De facto parece um contra senso…não faz muito sentido abrir as janelas quando passámos horas a aquecer. O que acontece é que em Portugal os edifícios foram (e por vezes ainda são) tão mal construídos que a ventilação necessária para renovar o ar interior ocorre não só pela abertura das janelas, mas por toda a envolvente do edifício onde há infiltrações de ar e até ligeiras correntes de ar. Será que estamos a aquecer o ar da rua?
Por isso é tão importante garantir a estanquidade ao ar num edifício. E este é mais um dos princípios das Passive House. Tem que ser o utilizador a controlar e avaliar a entrada de ar no edifício, caso contrário o edifício está a perder energia por locais que nem sabemos que existem. Não é que não tenhamos que ter ar novo vindo do exterior a entrar dentro de casa…isso terá de acontecer por uma necessidade de renovação de ar e qualidade do ar interior. O que não queremos é ter o ar frio a entrar e circular no edifício. Então a pergunta coloca-se:
Porque não libertar o ar quente do interior “guardando” a sua energia e com ela aquecer o ar frio que entra?
A este conceito chama-se ventilação mecânica com recuperação de calor. A tecnologia do sector da eficiência energética cresceu tanto que hoje há equipamentos de elevado rendimento que permitem retirar do interior o ar saturado (pela utilização das pessoas) e guardar o “calor” para aquecer o ar frio que introduzem no edifício.
O princípio do sistema de ventilação de uma Passive House é esse, o ar viciado (a laranja na imagem) é extraído da cozinha e casa de banho e o ar novo (a vermelho na imagem) entra para as áreas de maior permanência, sendo que as zonas de passagem são também elas ventiladas. Antes de ser expelido o ar usado passa no permutador de calor fazendo a transferência da maior parte da energia com o ar novo vindo do exterior. Este sistema permite evitar 80% das perdas por renovação de ar, o que é muito significativo. As Passive House asseguram assim a ventilação e qualidade do ar interior, sem com isso por em causa a eficiência energética de todo o edifício. O custo mensal de energia elétrica deste tipo de solução é muito baixo. Este é um assunto sobre o qual pode saber mais num dos nossos próximos artigos.
Não é só com a eficiência energética que temos que nos preocupar…Do ponto de vista da saúde e do conforto, este sistema garante a qualidade do ar interior, fornecendo ar novo e de qualidade em quantidades adequadas e filtrado, sem depender da acção dos utilizadores. Muitos dizem “Somos o que comemos”, mas não seremos também “o que respiramos”?

Temos que nos preocupar com o ar que respiramos!
Mas...e no Verão?
Quando temos uma temperatura exterior elevada e queremos ter uma temperatura ideal no interior de 25º? No Verão todo o sistema de ventilação funciona de forma semelhante…ou seja quando a temperatura exterior for mais baixa que a interior (geralmente durante a noite) o ar novo é insuflado directamente para a casa e durante o dia a ventilação ocorre através do equipamento que arrefece o ar que entra.

Este sistema é bastante inteligente, mas apenas funciona se o edifício for estanque ao ar. Só assim é possível controlar as entradas e saídas de ar e optimizar a eficiência energética sem comprometer a qualidade do ar interior. A verdade é que o parque edificado português é de tão fraca qualidade que há fugas por todo o lado... Os piores locais são as zonas dos vãos, com a má aplicação das janelas e portas exteriores. Felizmente há soluções técnicas que também resolvem este problema.
Curiosos? Falaremos deste assunto num próximo artigo.
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